0 Teoria Lost | Novos personagens compõe o verdadeiro Socialismo Utópico!

Interpretar aquilo que os olhos não vêem é meu passatempo predileto. E Lost é um prato cheio. Lost é um seriado de TV, leia mais clicando aqui. O resultado disso é um enorme número de teorias e especulações sobre os episódios.



Estou fazendo um esforço enorme para acreditar que os roteiristas de Lost responderão todas as minhas perguntas sobre a série. Dentre todas as dúvidas a principal delas é sobre o "Socialismo Utópico", citado no vídeo da Dharma. Segundo as explicações, "Os Outros" seriam parte dessa comunidade experimental. Fui atrás de mais informações sobre o que caracteriza de fato uma Sociedade Utópica.



Descobri que tudo começou no início do século XIX. O avanço do ideário liberal produzia crises e lançava os trabalhadores à miséria com a exploração de seu trabalho e precárias condições de vida. Apesar de a Revolução Francesa ter consagrado o lema liberdade, igualdade e fraternidade, tinha-se claro que igualdade não existia numa sociedade tão dividida entre ricos e pobres.



A liberdade que existia era a de mercado, com o burguês livre para explorar o trabalhador. Depois disso fraternidade entre as classes sociais seria piada. Movidas por essa decepção frente à Revolução Francesa e opondo-se à essa realidade, ao pensamento dominante e à estrutura da sociedade surgem questionamentos e questionadores. Uma corrente questionadora chamada Socialismo Utópico.



Os maiores pensadores do Socialismo Utópico são franceses (conhece alguma francesa???). Destaca-se Claude Saint-Simon (1760 - 1825), Louis Blanc (1811 - 1882) e Charles Fourier (1772 - 1837). Vou dá um doce para quem adivinhar qual era a principal inspiração deles?



Acertou quem disse Jean-Jacques Rousseau. Ele introduziu a concepção de que a criança era um ser com características próprias em suas idéias e interesses, e desse modo não mais podia ser vista como um adulto em miniatura (Waaalt!!!).



Um dos maiores oponentes de Rousseau foi John Locke (não o careca, e sim o filósofo). Locke admite a perda da liberdade quando afirma que "o homem, por ser livre por natureza, não pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio consentimento", enquanto para Rousseau "o homem não pode renunciar à sua liberdade". Outra idéia fundamental de Rousseau é que o homem nasce puro e bom, a sociedade e as instituições o corrompem.



Seguindo esta linha de raciocínio podemos constatar três exigências para construção de um Socialismo Utópico:

  • O direito do indivíduo ao trabalho;
  • A igualdade das inteligências e o nivelamento da condição social do indivíduo;
  • O aniquilamento do Estado por parte do indivíduo como consequência lógica e necessária da revolução.
O livro de maior destaque sobre Socialismo Utópico é "A Utopia" de Thomas More (1478-1535). Nele More descreve uma sociedade perfeita que vive numa ilha isolada do resto do mundo (você acredita em coincidências?). Amaurota é a capital imaginária dessa ilha e Anidro é rio principal (fique ligado, daqui a pouco você escutará esses verbetes).



Tinha esse livro guardado na minha biblioteca e não lembrava mais dele. Ganhei em 2002, tentei lê e não consegui pela aparente complexidade. Hoje, passando pelo armário o livro chamou por mim. Irresistível. O li em poucas horas. Vou transcrever algumas passagens, tirem suas próprias conclusões...



Os utopianos criam poucos cavalos, e estes poucos, muito fogosos, com o único propósito de exercitar os jovens na equitação e nos feitos de armas. (p.55)


A agricultura é a arte comum a todos os utopianos, homens e mulheres, e a atividade em que todos são igualmente peritos e hábeis. (p.59)


Os utopianos não conhecem o jogo dos dados ou qualquer dos outros jogos de azar, tão perniciosos e loucos. Jogam, porém, dois jogos que se assemelham ao nosso jogo do xadrez. Um deles é a batalha dos números, em que um número vence outro. O outro é o combate dos vícios e das vitudes, em jeito de batalha, sobre um tabuleiro. (p.61)


Se por qualquer circustância diminuir de tal modo a população de qualquer das cidades que não possa ser preenchida com o excesso de população de outras (o que apenas aconteceu duas vezes na Utopia, desde o início da sua nacionalidade, por causa de uma terrível epidemia, recorrem então à população das colônias). (p.65)


Na Utopia existem algumas cidades, umas próximas das outras. As colônias são pontos que servem para abrigar o excesso de pessoas nas cidades.



Os leões, dizem, os ursos, os javalis, lobos, cães e outros animais selvagens combatem com a força física e, embora mutos excedeam o homem em vigor e audácia, a todos ultrapassam em inteligência e razão. (p.94)


Os utopianos são pacíficos, tratam bem os estrangeiros e desprezam a guerra. Quando envolvem-se numa batalha, os utopianos sempre contratam mercenários.



Os mercenários zapoletos situam-se a quinhentos milhas a leste da Utopia. São selvagens, bárbaros e ferozes, vivem nas florestas e montanhas, onde se criaram. São de natureza agreste, aptos a sofrer e suportar o calor, o frio e o trabalho. Suas construções são rudes e grosseiras. O mesmo acontece com o seu vestuário. (p.96)


Zapoletos são vizinho da Utopia e fazem o trabalho braçal para os utopianos.



Quero vê a organização social que os roteiristas irão criar para "Os Outros". Se eles continuarem seguindo Thomas More, podemos esperar por muitas vilas, casas bem projetadas e habitantes civilizados. Que comecem as apostas!!!



OBS: Texto originalmente publicado no fórum do LostBrasil, local em que você poderá acompanhar todo o debate sobre essa teoria.



Fontes:

MORE, Thomas. A Utopia. São Paulo, Martin Claret: 2002.

Teoria do Socialismo (1872), por Oliveira Martins.

Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, por Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro.

Wikipédia.
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