Há muito tempo perdi o interesse pelo Oscar. Acho que os Academy Awards não representam o que gosto, penso e desejo para o cinema. Em 2010 absurdamente Avatar perdeu o prêmio para Guerra ao Terror, com James Cameron sendo humilhado pela Kathryn Bigelow. Nesse ano, filmes espetaculares como Planeta dos Macacos - A Origem, Super 8 e Tudo Pelo Poder, sequer aparecem nas principais listas. Mas por algum feitiço qualquer, sempre acabo entrando na festa. Foi assim em 2006, 2007, 2009, 2010 e 2011. Dessa forma, vou deixar registrado aqui no Senhor Jones minhas apostas para os vencedores. Depois volto e confiro. Será que passo dos 70% de acerto?

MELHOR FILME: O Artista [acertei]




Até agora não entendi por que a lista desse ano tem 9 filmes ao invés de 10. Será que faltou opção? Dos concorrentes, gostei muito da atmosfera de férias de Os Descendentes, da emocionante Histórias Cruzadas, da batalha ideológica de O Homem Que Mudou o Jogo, da qualidade técnica de A Invenção de Hugo Cabret, do romancismo de Cavalo de Guerra, do lirismo nostálgico de Meia-Noite em Paris e das descobertas emocionais de Tão Forte e Tão Perto. Com exceção do sonolento A Árvore da Vida, achei todos filmes medianos. Nenhum deles me surpreendeu. Por isso, minha aposta para o Oscar de Melhor Filme é O Artista. Não é brilhante, mas a história diverte, emociona e nos faz pensar. Atributos suficientes para merecer o prêmio.

MELHOR DIRETOR: Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret) [errei, venceu Michel Hazanavicius em O Artista]




Eu gostei da cadência de Woody Allen em Meia-Noite em Paris, da ousadia poética de Michel Hazanavicius em O Artista, a abordagem dramática do Alexander Payne em Os Descendentes e até de algumas respostas oferecidas pelo Terrence Malick em A Árvore da Vida. Mas o grande trabalho de direção do ano é do Martin Scorsese com A Invenção de Hugo Cabret. Nos primeiros 10 minutos do filme fiquei impressionado com a qualidade visual, as tomadas em movimento, os efeitos, os elementos compondo cada cena, os detalhes de figurino, música. É realmente um belo banquete sensorial para quem gosta de cinema.

MELHOR ATOR: Jean Dujardin (O Artista) [acertei]




Os sempre competentes George Clooney em Os Descendentes e Brad Pitt em O Homem Que Mudou o Jogo trouxeram vigor e intensidade aos seus personagens. Já Gary Oldman em O Espião que Sabia Demais e - principalmente - Demián Bichir em Uma Vida Melhor, não entendi a indicação. Achei que ambos desempenharam um papel burocrático e sem atratividade. Nesse lista, estarei torcendo para que o Jean Dujardin de O Artista vença como Melhor Ator. Mesmo sem o recurso do diálogo falado, ele trouxe muita emoção e sinceridade ao personagem.

MELHOR ATRIZ: Meryl Streep (A Dama de Ferro) [acertei]




Categoria mais difícil esse ano. Só grandes trabalhos. Glenn Close em Albert Nobbs, por exemplo, conseguiu tirar o fôlego mesmo num filme chatíssimo. Viola Davis em Histórias Cruzadas faz outro grande papel, mas divide a atenção com os coadjuvantes do elenco. Rooney Mara em Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres foi pra mim a grande surpresa. Muito talentosa e sem medo das intervenções físicas e morais de sua personagem. Outra garota de ouro é Michelle Williams em Sete Dias com Marilyn. Ela imitou muito bem os maneirismos da personagem, especialmente o olhar, a voz e as variações de humor. Mas a grande merecedora é Meryl Streep por A Dama de Ferro. O filme não é grande coisa, mas a personalidade forte e perturbada da Margaret Thatcher foi brilhantemente representada. Muitas vezes esqueci que era só um filme. Merece o prêmio de Melhor Atriz.

MELHOR ATOR COADJUVANTE: Nick Nolte (Guerreiro) [errei, venceu Christopher Plummer em "Toda Forma de Amor"]




O veterano Kenneth Branagh de Sete Dias com Marilyn desempenhou bem o papel, mas sem destaque. Max Von Sydow de Tão Forte e Tão Perto, não fala nada o filme inteiro, ainda assim é um ótimo personagem. Pena ter sido ofuscado pelo menino prodígio protagonista do filme. O humorista Jonah Hill de O Homem Que Mudou o Jogo surpreendeu todo mundo com um papel sério. Mas faltou paixão pelo personagem. Achei o ator muito frio e sem entusiasmo, mesmo nos momentos de emoção da história. Outra surpresa foi o gay interpretado por Christopher Plummer em Toda Forma de Amor. Convincente mesmo numa situação tão incomum. Mas minha aposta para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante vai para Nick Nolte de Guerreiro. Realmente ele é a própria figura do pai fracassado.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Bérénice Bejo (O Artista) [errei, venceu Octavia Spencer por Histórias Cruzadas]




Não entendi a indicação de Janet McTeer por Albert Nobbs. Só porque é uma mulher fazendo papel de homem? Também achei despropositada a entrada na lista da Melissa McCarthy por Missão Madrinha de Casamento. Ela é engraçada e faz bem o papel, mas o filme é muito chato e sua personagem não tem importância. Já Jessica Chastain e Octavia Spencer, ambas de Histórias Cruzadas, fazem uma dupla sensacional no filme. Chorei e ri. Mas minha torcida para o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante vai para Bérénice Bejo por O Artista. Ela literalmente rouba a cena.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Tudo pelo Poder [errei, venceu Os Descendentes]

A história de A Invenção de Hugo Cabret tem um argumento genial, mas achei que se perde misturando o drama do pai do garoto com o velho cineasta. Os Descendentes surpreende pela sequência de tragédias e a forma de encarar os problemas. No ritmo oposto, mas com a mesma qualidade está O Homem Que Mudou o Jogo. O único pecado é a falta de surpresa. Logo no início já é possível presumir final. Nessa lista só não gostei de O Espião que Sabia Demais. Achei a história sonolenta e sem ritmo. E pra mim o grande vendedor de Melhor Roteiro Adaptado será Tudo pelo Poder. Escrito por George Clooney e Grant Heslov, baseado na peça teatral "Farragut North", de Beau Willimon, o filme é uma roleta russa. Os personagens vão se adaptando a cada virada na história. Arrepiante.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: O Artista [errei, venceu "Meia-Noite em Paris"]

Achei a seleção muito ruim. Margin Call - O Dia Antes do Fim, por exemplo, não tem o menor tempero. É uma história seca e direta. Deve funcionar numa página de revista, mas não na tela grande. Missão Madrinha de Casamento é uma repetição de milhares de outros "contos de fadas" que já existem por aí. Tem seus méritos na dinâmica dos personagens, mas nunca na qualidade do texto. O filme iraniano A Separação é muita enrolação. A história vai e vem sem sair do lugar. Seria muito bem aproveitado numa sala de aula com alunos de direito, só. Roteiro bom é Meia-Noite em Paris, com suas maluquices temporais e o frescor da efervescência cultural da Era de Ouro de Paris. Mas é trivial demais e não merece o prêmio. Que eu torço para que fique com O Artista. Não pela grande qualidade, mas por eliminação.

MELHOR LONGA ANIMADO: Rango [acertei]

Absurdo "Rio" e "As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne" não constarem na lista. Absurdo não, imoralidade. Das opções oferecidas, Gato de Botas é divertido. Achei um forma interessante de prolongar a vida de "Shrek". Kung Fu Panda 2 não gostei. Tem boa qualidade visual, mas faltou alegria aos personagens. Um Gato em Paris conta uma história tradicional de forma bem divertida. Eu gostei bastante. Chico & Rita é uma obra-de-arte nas cores cubanas. É um daqueles filmes para comprar o DVD/Blu-ray e pendurar na parede. Mas como a festa é americana, pra mim o vencedor de Melhor Longa Animado será Rango. Disparado o mais original, engraçado e inteligente.

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL: O Artista [acertei]

Difícil escolher uma. Gostei da trilha frenética de As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, da grandiosidade imposta pelo mestre John Williams em Cavalo de Guerra, da cerebral O Espião que Sabia Demais e da criatividade de A Invenção de Hugo Cabret. Mas essa parada ninguém ganha da levada clássica do filme mudo O Artista.

MELHORES EFEITOS VISUAIS: Planeta dos Macacos - A Origem [errei, venceu "A Invenção de Hugo Cabret"]

Categoria sempre muito concorrida. É uma de minhas preferidas. Gostei das indicações desse ano. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 merece pelas inúmeras intervenções mágicas que deixam o filme mais grandioso que o texto seco do livro. A Invenção de Hugo Cabret, sem palavras, grandes efeitos e uma perfeição no acabamento que impressionam. Gigantes de Aço foi pouco comentado, mas também chama atenção. Criar Robôs gigantes duelando e se relacionando com humanos não é tarefa fácil. O sempre presente Transformers: O Lado Oculto da Lua mantém a qualidade visual da franquia. Mas tenho certeza que o prêmio vai para Planeta dos Macacos - A Origem. Pra mim um divisor de águas nesse mercado. Merece o Oscar para encravar de vez o nome na história do cinema.

MELHOR MAQUIAGEM: A Dama de Ferro [acertei]

A maquiagem de Albert Nobbs é muito boa, mas transparece artificialidade. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 é melhor, integrando bem com os efeitos visuais. Mas eu torço por A Dama de Ferro. Realmente perfeita a caracterização idosa dos personagens. Só senti falta do filme "J. Edgar". Incompreensível a não indicação nessa categoria.

MELHOR FOTOGRAFIA: A Invenção de Hugo Cabret [acertei]

Quase impossível acertar esse prêmio. A concorrência é acirrada. Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres é lindo. Todo cercado pela neve nórdica e personagens góticos. Uma mistura improvável e um resultado surpreendente. O Artista tem a seu favor o mistério do preto e branco. O uso das sombras e contrastes garantem boas imagens. Cavalo de Guerra tem a Primeira Guerra Mundial ao fundo, um trunfo importante. A Árvore da Vida tem na fotografia seu ponto forte. Com cenas curtas e sem movimento, o filme é quase um álbum fotográfico. Ainda assim, vou apostar em A Invenção de Hugo Cabret pelas imagens aéreas e noturnas de Paris. Simplesmente uma das tomadas mais fantásticas de todos os tempos.

MELHOR FIGURINO: A Invenção de Hugo Cabret [errei, venceu O Artista]

Que me desculpe a Madonna, mas W.E. - O Romance do Século eu não assisti e nem pretendo. Então não conheço o figurino. Já Anônimo e gostei muito. A ideia de contar uma teoria conspiratória sobre William Shakespeare foi muito boa e o figurino acompanhou a viagem com muitos balangandãs. O filme Jane Eyre tem como ponto forte o glamour do século 19. O Artista tem todo o figurino hollywoodiano a sua disposição, mas meu voto vai para A Invenção de Hugo Cabret. O trabalho da equipe do Martin Scorsese trouxe muita beleza e personalidade ao filme.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: A Invenção de Hugo Cabret [acertei]

Que me desculpe O Artista, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 e Cavalo de Guerra. Filmes realmente muito bem feitos, com uma grande estética e realismo, mas nessa categoria é impossível tirar o prêmio de A Invenção de Hugo Cabret. O filme retratou uma Paris que não conhecia. Méritos para Dante Ferretti, Alastair Bullock, Dimitri Capuani, Steve Carter, Stéphane Cressend, Martin Foley, Christian Huband, Stuart Rose, Luca Tranchino, David Warren e Ashley Winter.

MELHOR MONTAGEM: Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres [acertei]

Acho que faltou criatividade na seleção dos indicados a melhor montagem. A Academia optou pela tradição. Nessa perspectiva, Os Descendentes e O Artista são apenas bons. O Homem Que Mudou o Jogo é melhor, conseguindo dá um bom ritmo à história. O mais fraco da lista é A Invenção de Hugo Cabret. Essa deve ter sido a grande falha no filme. Fosse isso ganharia os principais prêmios com facilidade. Nas opções dadas, o melhor que achei é Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres. A investigação do crime não deixa você piscar o olho.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM: Cavalo de Guerra [errei, venceu "A Invenção de Hugo Cabret"]

Drive é um filme ruim, não entendi o motivo da indicação. Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres já é mais divertido. O cenário do filme até pede um bom som para poder funcionar. Transformers: O Lado Oculto da Lua não merece constar nessa categoria pela falta de originalidade. A Invenção de Hugo Cabret é perfeito nesse aspecto, merece o prêmio. Mas eu não posso deixar de votar em Cavalo de Guerra. Acho que esse não é o melhor trabalho de John Williams, ainda assim torço para que saia com a estatueta.

MELHOR MIXAGEM DE SOM: A Invenção de Hugo Cabret [acertei]

Apesar do ótimo clima de suspense em Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, da adrenalina militar de Cavalo de Guerra, da alegoria tecnológica de Transformers: O Lado Oculto da Lua e a propulsão sonora de O Homem Que Mudou o Jogo, eu fico com A Invenção de Hugo Cabret pelo contagiante tic-tac que dá ritmo à traquinagem dos personagens.

Não irei votar em seis categorias pois não assisti aos filmes.

MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA: A Separação (Irã); Bullhead (Bélgica); Monsieur Lazhar (Canadá); Footnote (Israel); e In Darkness (Polônia).

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: "Man or Muppet" - Os Muppets; e "Real in Rio" - Rio.

MELHOR DOCUMENTÁRIO: Hell and Back Again; If a Tree Falls; Paradise Lost 3: Purgatory; Pina; e Undefeated.

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM: God is the Bigger Elvis; The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement; Incident in New Baghdad; Saving Face; The Tsunami and the Cherry; e Blossom.

MELHOR CURTA: Pentecost; Raju; The Shore; Time Freak; e Tuba Atlantic.

MELHOR CURTA ANIMADO: Dimanche; The Fantastic Flying Books of Mister Morris Lessmore; La Luna; A Morning Stroll; e Wild Life.

A cerimônia da 84ª edição do Oscar é dia 25/02/12 (domingo). A transmissão começa a partir das 20h30 ao vivo na TNT. Mas a entrega dos prêmios é às 22h, com comentários do crítico Rubens Ewald Filho. Na Globo é um pouco mais tarde, às 23h55, com José Wilker.

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• Oscar 2009 e minhas apostas (22/02/09)
• Oscar 2007 e minhas apostas (25/02/07)
• Oscar 2006 e minhas apostas (05/03/06)

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UPDATE - 27/02/12| 02:08h
Obtive 10 acertos e 8 erros, com escore final de 56%. Nada mal.