0 Resenha | O Restaurante no Fim do Universo

Eu não entro em pânico por qualquer coisa. Só quando qualquer coisa significa não entrar em pânico. Apesar que não ter memórias de momentos assim... A sensação mais próxima é olhar a prateleira e perceber algumas histórias não lidas. Foi assim com o livro O Guia do Mochileiro das Galáxias. Depois que terminei a aventura do britânico Douglas Adams, senti que a jornada deveria continuar. Com a toalha no pescoço, iniciei a exploração de O Restaurante no Fim do Universo (Ed. Arqueiro, 2010), segundo livro da série publicado no início dos anos 1980.

O Restaurante no Fim do Universo

A nova aventura começa no exótico Restaurante Milliways, cujo cardápio consta:
A história de todas as grandes civilizações galácticas tende a atrevessar três fases distintas e identificáveis – as da sobrevivência, da interrogação e da sofisticação, também conhecidas como as fases do como, do por quê e do onde. Por exemplo, a primeira fase é caracterizada pela pergunta: "Como vamos poder comer?" A segunda , pela pergunta: "Por que comemos?" E a terceira, pela pergunta: "Onde vamos almoçar?"
A resposta à terceira é óbvia. Nada previsível é o atendimento à clientela. Enquanto nossos personagens aguardam as opções de prato, eis que surge o próprio bovino:
– Boa noite, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? Alguma parte do ombro?
– Ahn, do seu ombro? – disse Arthur, sussurrando horrorizado.
– Naturalmente que é do meu ombro, senhor – mugiu o animal, satisfeito –, só tenho o meu para oferecer. Ou a alcatra, que também é muito boa. Tenho feito exercícios e comido cereais, de forma que há bastante carne boa ali.
É a parte mais divertida. O boi ainda diz aos clientes que não precisavam se preocupar, pois ele teria uma morte humanamente digna e estava ali para satisfazer os visitantes. Achei uma tremenda defesa do vegetarianismo.

Também nesse restaurante encontrei dezenas de influências do livro nos filmes "MIB - Homens de Preto" (1997), especialmente nos ETs com formatos inesperados e nos debates sobre o tamanho dos universos. Lembrei do Cinturão de Órion, que nada mais era que uma bola de gude, e do armário contendo os pequenos devotos do relógio. Lembra dessa cena?

Depois de devidamente alimentados, os personagens entram numa trapalhada rumo ao sol. E ao contrário do primeiro livro, aqui o terráqueo Arthur Dent é deixado um pouco de lado. Quem se destaca é Zaphod Beeblebrox. Seu senso de humor esquizofrênico está ainda pior.

Gostei do dilema da viagem no tempo. A forma de explorar o assunto foi bem mais simples e divertida do que se costuma ver por aí. Exemplo: você poderia viajar no tempo, depositar um centavo na poupança e sacar milhões segundos depois de uma nova viagem ao futuro. Em outra situação os personagens pedem à máquina do tempo para levá-los ao restaurante mais próximo de onde estavam. Acabam viajando 576 bilhões de anos no futuro e não saindo do lugar. Chegando a um restaurante do futuro. Genial!

Fora isso, achei O Restaurante no Fim do Universo bem mais fraco que o primeiro livro. Faltou uma aventura realmente importante. Aqui temos apenas jogos de palavras, brincadeiras com o tempo e ocupações infrutíferas. Os personagens pulavam de mundo em mundo de forma aleatória. Faltou um objetivo nobre, uma missão.

Mas não desanimei, vou continuar a saga. Recomendo também a leitura da resenha do Luis, publicada no Granja do Solar.

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